Tristeza combina com whisky. Tem um sabor parecido. Com a diferença de que solta o nó na garganta. E anestesia os sentidos. Não só os sentidos. Até os pensamentos ficam lentos. Fica mais difícil elaborar qualquer ideia. Desistir é uma questão de tempo. Aí vem mais uma onda de lágrimas, apertando a garganta – garçom, me vê mais uma dose. Desato mais outro nó, sei o preço. Mas não ligo. Tudo fica mais leve, mais solto. Então começo a divagar em minhas ideias, em pensamentos desconexos. Penso em como mudar o passado, reproduzo cada cena mentalmente. Rio sozinha. Faço caretas e falo com projeções do além. Elas continuam minhas amigas, de onde quer que estejam. Sombras, somente. Então eu relaxo. Tomo uma terceira dose sem pressa. Sinto o amargo descer lentamente pela garganta. No início era pungente como chá verde, mas agora tanto faz. Até a fumaça dos cigarros já embala meus pensamentos. Vou desistindo lentamente dos meus pensamentos – eles vão acabar me enlouquecendo. Grandes gênios sucumbiram por pensar demais, quem dirá uma simples mortal, desprovida de berço esplêndido? Chamo a saidera para calar meus pensamentos. Não tento lutar contra minhas pálpebras. Deixo o som do ambiente me levar para não ter o que pensar. Fujo daquilo que levo no olhar, aonde quer que eu vá.
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