Rachel Gonçalves
Diga-me quando abrirá os olhos. Quando vai sair desta ilha de sonhos, desse paraísso infantil. Dá-me um prazo para crescer, para revelar minha identidade. Qual o teu lugar no mundo? Mas, primordialmente, quem és tu? Se sou produto do meio, por que reluto em aceitá-lo? Tem coisa que, por mais óbvia que seja, é invisível ao principal interessado. Como acreditar em uma pessoa estranha, com o dobro da sua idade e, ainda por cima, montá-la num cavalo branco? Se não é uma fantasia infantil, não sei o que é. É insólito! Um passarinho azul me contou... Uma bofetada de travesseiro, um choque de realidade, da ordem de milivolts - a realidade é até gentil comigo, se eu for analizar as possibilidades. Não é que eu queria reviver algum passado. A superfície tende a manter-se estável, mas tudo que vem abaixo dela é turvo, é turbulência, não há ordem - apenas elementos entregues ao dadaísmo. O substrato disso tudo são fotografias, é aquilo que se lê, são fotos para ver, são apenas impressões de um momento. Só o habitante reconhece sua casa - aquele que viaja para lugares muito diferentes não conhece de fato lugar nenhum. É preciso viver um lugar para conhecê-lo de fato - mas principalmente, fora do aquário particular. Para assegurar minha própria sobrevivência, preciso aprender a nadar em mar aberto. Os tubarões não terão piedade.
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