Rachel Gonçalves
Por que gostamos tanto de olhos? É pelos olhos que descobrimos a história de uma pessoa. Algumas pessoas ficam incomodadas quando lhe olham nos olhos – como se estivessem sendo “invadidas”. Mas é. Os olhos denunciam não o que, mas como vivemos. Bebês são cativantes porque seu olhar é puro, uma folha em branco, grandes e ávidos por conhecimento. Tem gente que continua assim na vida adulta, mas olhos rasos são de uma beleza que não dura para sempre. A inocência tem prazo de validade – depois disso, é alienação. Olhos apressados, inquietos, arregalados são típicos de crianças. Por mais cativantes que sejam, não inspiram confiança – são olhos rasos. Mas um olhar não posa para a eternidade. Testemunhas fieis, olhos não esquecem o que viram. O cérebro pode nos proteger de um pensamento, mas é ineficaz contra as janelas da alma. Um olhar profuno jamais volta ao ponto raso inicial. É deformável, mas inelástico. Olhares profundos nos propiciam um mergulho em outro mundo – dois universos mergulhando entre sí, duas histórias comungando. É por aí. Olhos profundos contam. O interessante é que poucos adultos possuem esse olhar – a maioria apenas fala. E não comunica nada. É estranho, mas não conheço meu olhar. Não é algo que você mesmo possa avaliar. Mas sei porém, que ontem ele pesava bem menos.
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